Numa carta aberta publicada na quinta-feira, James Colton, Dave Burnett e Maria Mann, que integraram júris de várias edições do World Press Photo (WPP), apelaram ao conselho fiscal e ao comité consultivo da fundação WPP para que reconsiderem a decisão tomada na semana ada de suspender a atribuição da autoria da fotografia a Nick Ut.
'A Menina do Napalm', também conhecida por 'O Terror da Guerra', uma das mais conhecidas fotografias da Guerra do Vietname, mostra uma menina vietnamita gravemente queimada a correr nua por uma estrada, após um ataque de napalm, na região de Trang Bang, no sul do país, em 1972.
A imagem deu ao fotógrafo vietnamita-americano da Associated Press (AP) Huynh Cong Ut, mais conhecido por Nick Ut, o Prémio Pulitzer e o World Press Photo em 1973.
No entanto, em janeiro ado, o Festival de Cinema de Sundance exibiu o documentário 'The Stringer', de Bao Nguyen, no qual é atribuída a autoria da fotografia a um jornalista 'freelancer' vietnamita, Nguyen Thanh Nghe, que é entrevistado no filme.
A revelação levou a agência norte-americana AP a encetar igualmente uma investigação, divulgada a 06 de maio, concluindo que "não há provas definitivas, pelos [seus] padrões, para alterar o crédito desta foto de 53 anos".
Segundo o relatório da AP, não é possível provar conclusivamente a autoria da imagem, devido à agem do tempo, à ausência de provas importantes, às limitações da tecnologia e às mortes de várias pessoas envolvidas, ao longo das últimas cinco décadas.
Os resultados mantêm a possibilidade de Nick Ut ser de facto o autor da imagem, por não ter sido encontrada qualquer prova de que Nguyen a tenha feito.
Ainda assim, a fundação World Press Photo decidiu suspender a atribuição da autoria por considerar que outros dois fotógrafos, os vietnamitas Nguyen Thanh Nghe e Huynh Cong Phuc, "podem ter estado em melhor posição para tirar a fotografia".
"O mais importante é que a fotografia em si permanece incontestável, e o prémio World Press Photo para esta foto de um momento importante na história do século XX continua a ser um facto, [...] apenas a autoria está suspensa e sob revisão", esclarece a fundação em comunicado.
Na carta aberta, os três antigos jurados manifestam-se "tristes e profundamente perturbados" pela decisão "perigosa e errada" da organização do WPP, que "vai contra todas as normas utilizadas no mundo, segundo as quais uma pessoa é inocente até prova em contrário".
Os três signatários criticam diretamente a diretora executiva do World Press Photo, Joumana El Zein Khoury, dizendo que decisão de retirar a autoria a Nick Ut foi fundamentada "em dúvidas e suposições, e não em factos incontestáveis".
"Se não for tomada nenhuma decisão para restabelecer a autoria de Ut, pedimos que retirem os nossos nomes dos vossos sites e arquivos, como tendo alguma vez participado como presidentes e jurados nos vossos concursos", sublinham.
James Colton, Dave Burnett e Maria Mann sugerem ainda que "outros jurados, editores e fotógrafos" façam o mesmo e não participem em futuros concursos, "se sentirem que cometeram uma injustiça para com Nick Ut".
"Se nos basearmos em 'dúvidas' e não em provas, duvido seriamente que alguém queira ter o nome associado a uma organização que não segue as práticas e a ética jornalísticas aceites", remataram.
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