Mundo "mais perto" de nova pandemia como a de Covid, avisam cientistas

O mundo está mais perto do que nunca de uma nova pandemia, como a de covid-19, avisam os cientistas, que apontam como fatores a destruição de 'habitats' naturais e a complacência face a medidas preventivas como a vacinação.

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Lusa
08/03/2025 09:11 ‧ 08/03/2025 por Lusa

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Covid-19

"Ninguém questiona que, mais cedo ou mais tarde, voltaremos a ser confrontados com outro vírus pandémico. Por definição, cada dia que a estamos um dia mais perto de uma nova pandemia, embora não seja possível prever ao certo quando ocorrerá", diz, à Lusa, o parasitologista Miguel Prudêncio, investigador do Instituto Gulbenkian de Medicina Molecular e docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

 

A pandemia de covid-19, causada pelo coronavírus respiratório SARS-CoV-2, foi declarada pela Organização Mundial da Saúde em 11 de março de 2020 e, de acordo com dados comunicados à agência da ONU, já matou mais de sete milhões de pessoas, entre os mais de 700 milhões de infetados.

Decorridos cinco anos, a Lusa procurou saber junto de cientistas portugueses qual o risco e as razões do aparecimento de uma nova pandemia.

Segundo a geneticista Luísa Pereira, há "várias razões a contribuir para o risco elevado de pandemias". Uma delas é a "cada vez maior globalização e destruição de ambientes naturais, que potenciam o 'salto' de agentes patogénicos de outros organismos para humanos".

A investigadora do i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, que lidera o grupo que estuda a diversidade genética, elenca também as alterações climáticas, que aumentam a distribuição de mosquitos, moscas, carraças, pulgas, que transportam microrganismos patogénicos, como bactérias, fungos, vírus, parasitas, para "populações até agora 'naifs'".

Foi o que sucedeu no "caso dos surtos autóctones de dengue na ilha da Madeira, em países do sul da Europa e em estados do sul dos Estados Unidos", ilustra.

O bioquímico Miguel Castanho assinala que "os desequilíbrios ecológicos podem favorecer novas pandemias", uma vez que os vírus "fazem parte de equilíbrios ambientais e estão fortemente correlacionados com o que acontece com populações de fungos".

"A destruição de grandes 'habitats' naturais, como a Amazónia, pode ter custos elevadíssimos, não só na forma de eventos climatéricos extremos, como em pandemias", adverte o docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e investigador do Instituto Gulbenkian de Medicina Molecular.

Basicamente, segundo Miguel Castanho, a pandemia de covid-19 acordou o mundo de "uma longa ilusão", a de que os microrganismos que causam doença "estavam derrotados".

"Todos sabemos" que uma nova pandemia "pode acontecer e devemos estar preparados e prontos quando acontecer", sublinha.

Para a imunologista Helena Soares, sim, está-se mais perto do que nunca de uma nova pandemia.

"Devido à combinação de fatores ambientais, como a destruição de ecossistemas e a sua urbanização, aliada ao trânsito global de pessoas e mercadorias, o que aumenta a exposição a agentes infecciosos novos como já estabelecidos", justifica.

A investigadora do laboratório de Imunobiologia e Patogénese Humana da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa lembra a este propósito que, depois da covid-19, emergiram infeções pelo vírus 'mpox' e "focos preocupantes" de gripe das aves e reemergiram infeções por dengue, sarampo e difteria.

Helena Soares acrescenta um outro fator que pode colocar o mundo "mais perto" de uma nova pandemia, a complacência.

"Não só face à vacinação, mas também a outras medidas preventivas", como ficar em casa e usar máscara quando uma pessoa adoece com uma patologia infetocontagiosa.

Aos descrentes das vacinas, a geneticista Luísa Pereira deixa um alerta.

"As pessoas têm memórias muito curtas, infelizmente. A elevada taxa de vacinação em meados do século XX protegeu-nos imenso contra a maioria das doenças infecciosas, deixámos de ver pessoas doentes e a morrer com estas doenças. Os pais deixam de vacinar os filhos, as doenças aparecem novamente e não vão ficar confinadas a um país".

Leia Também: Covid-19. INSA superou desafios que geraram avanços na investigação

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