"Falta uma certa sensibilidade política, sensibilidade económica, sensibilidade de interesses, por parte dos produtores" ses, afirmou Luiz Inácio Lula da Silva no encerramento do Fórum Económico Brasil-França, no hotel Intercontinental, em Paris.
O chefe de Estado brasileiro voltou a insistir em juntar agricultores de ambos os países, "que terão mais afinidade do que os técnicos", para que ambos os lados entendam que o acordo não será uma competição, tal como temem os ses.
"Por que não posso comprar um dia um frango brasileiro e depois um francês?", questionou Lula, para quem o acordo UE-Mercosul seria "uma demonstração diante daqueles que querem derrotar o multilateralismo", palavra que afirmou ter acrescentado ao dicionário francês com a sua visita de Estado ao país.
Numa entrevista concedida à televisão brasileira Globonews e divulgada hoje, Macron afirmou que ratificará o acordo UE-Mercosul se for introduzido um protocolo adicional de "cláusulas espelho ou de salvaguarda" que iguale as condições para os agricultores dos dois lados do Atlântico.
Para Macron, não se trata de uma medida protecionista, mas de "justiça e coerência", já que se exige aos agricultores europeus uma série de requisitos "para proteger a biodiversidade e a saúde humana" e os que querem produzir no Mercosul e exportar para a Europa "deveriam fazê-lo sob as mesmas condições".
O Presidente brasileiro pediu à França que tenha "abertura suficiente" para validar um pacto que, no seu entendimento, "vai surpreender muito", porque aqueles que o criticam "vão descobrir que os setores agrícolas [de ambas as regiões] são complementares".
Lula afirmou estar "otimista" ao assumir a presidência do Mercosul no dia 06 de julho, por seis meses, já que pretende convencer o Presidente francês a o acordo que unirá a União Europeia e a América do Sul e que envolve "722 milhões de pessoas".
"Vou aproveitar a amizade que tenho com Macron e vou ligar-lhe todas as semanas e dizer-lhe: 'Macron, meu amigo, meu companheiro, vamos fazer o acordo'", disse Lula, fazendo a plateia rir.
O Fórum Económico Brasil-França, que culminou a visita de Estado de Lula a Paris, terminou com o anúncio de compromissos de investimento de grandes empresas sas da ordem dos 100.000 milhões de reais (cerca de 17.700 milhões de euros) durante cinco anos a partir de 2026, não tendo sido especificadas as empresas ou os setores.
Relativamente à expressão "a Amazónia é o pulmão do mundo", Lula da Silva brincou afirmando que já refere há anos que enfrentam uma "pneumonia", pedindo aos países mais ricos que começaram a "industrialização e emissão de gases há muito mais tempo" que os ajudem.
O chefe de Estado brasileiro apelou à responsabilização de todos os países para assumirem o seu compromisso para com o planeta, defendendo que "a governança tem que ser um coletivo".
"Nós estamos destruindo o planeta, não é possível que sejamos a única espécie inteligente no mundo animal e sejamos tão ignorantes de destruir o mundo em que vivemos. Não tem outro mundo, é só aqui mesmo", disse Lula, criticando ainda quem não acredita nos especialistas e nas alterações climáticas.
Para o Presidente brasileiro, o seu país pode assumir o controlo da mudança, como já tem vindo a fazer com a questão da descarbonização, mas continua a existir um grave problema no mundo relacionado com a pobreza e a fome, para o qual é necessário voltar a aprender a viver em comunidade, sem individualismos.
O Presidente brasileiro recebeu hoje o título de 'doutor Honoris Causa' na Universidade Paris 8, antes de se deslocar para a terceira conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos em Nice e depois a Lyon.
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