A resolução, da autoria dos 10 membros não-permanentes do Conselho de Segurança, recebeu 14 votos a favor e apenas o veto dos EUA, que, como membro permanente, tem o poder de impedir este órgão da ONU de atuar.
O projeto agora rejeitado exigia um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente em Gaza; a libertação imediata, digna e incondicional de todos os reféns retidos pelo grupo islamita palestiniano Hamas; e o levantamento imediato e incondicional de todas as restrições à entrada de ajuda humanitária no território.
Esta é a quinta vez que os EUA vetam um projeto de resolução sobre a guerra entre Israel e o Hamas desde o início do atual conflito, em 07 de outubro de 2023.
Apesar dos apelos lançados pela Eslovénia antes da votação - que em nome dos dez membros não-permanentes pediu o apoio de todo o Conselho face à "situação catastrófica em Gaza" -, os EUA avisaram de antemão que iriam bloquear o projeto de resolução.
"A oposição dos EUA a esta resolução não deve ser surpresa. É inaceitável pelo que diz. É inaceitável pelo que não diz. E é inaceitável pela maneira como foi apresentada. Os EUA foram claros: não apoiaríamos nenhuma medida que não condenasse o Hamas e não exigisse que o Hamas se desarmasse e deixasse Gaza", afirmou a embaixadora interina norte-americana, Dorothy Shea.
De acordo com a diplomata, é "inconcebível" que a ONU ainda não tenha rotulado e aplicado sanções ao Hamas como uma organização terrorista.
Além disso, Shea argumentou que a resolução em causa minaria os esforços diplomáticos para alcançar um cessar-fogo que reflita a realidade no terreno e encorajaria o Hamas.
Ao justificar o seu veto, a representante norte-americana avaliou que um cessar-fogo "imediato, incondicional e permanente" deixaria o Hamas em posição de realizar futuros ataques.
Por fim, Shea pediu à ONU e outras organizações de todo o mundo que apoiem o Fundo Humanitário de Gaza (FGH), uma organização patrocinada pelos EUA e promovida por Israel para canalizar ajuda humanitária à margem dos canais da ONU, apesar de ter resultado em caos e pânico, além de morte.
A maioria dos membros do Conselho de Segurança lamentou o bloqueio de mais uma resolução sobre Gaza, mas alguns diplomatas recorreram a uma linguagem extraordinariamente dura para criticar a posição norte-americana.
O embaixador do Paquistão, Asim Iftikhar Ahmad, foi um dos diplomatas que condenou o veto dos EUA: "Será lembrado como cumplicidade, um sinal verde para a aniquilação contínua. Quando o mundo inteiro aguardava ação, este Conselho é mais uma vez bloqueado pelas ações de um único membro, impedindo-o de cumprir com a sua responsabilidade", refletiu.
"Esta não é mais uma crise humanitária. É o colapso da humanidade", frisou o diplomata paquistanês.
Já a embaixadora britânica, Barbara Woodward, direcionou as suas críticas a Israel por restringir a entrega de ajuda aos palestinianos.
"As decisões de Israel de expandir as suas operações militares em Gaza e restringir severamente a ajuda são injustificáveis, desproporcionais e contraproducentes, e o Reino Unido opõe-se completamente a elas", afirmou Woodward.
"Israel diz que abriu o o à ajuda. Mas os palestinianos, desesperados para alimentar as suas famílias, foram mortos enquanto tentavam chegar aos poucos locais de ajuda que foram permitidos por Israel. Isso é desumano", criticou.
Por sua vez, o embaixador israelita, Danny Danon, agradeceu a Washington por "ficar do lado certo" e "do lado da claridade moral", por ser "recusar a abandonar os reféns" e por reforçar que o "Hamas é um obstáculo à paz".
O embaixador palestiniano junto da ONU, Riyad Mansour, afirmou que planeia levar à Assembleia-Geral da ONU, na próxima semana, uma resolução semelhante à que foi votada hoje, focada na grave situação humanitária em Gaza.
Ao contrário do Conselho de Segurança, não há vetos na Assembleia-Geral.
Porém, as suas resoluções não são juridicamente vinculativas, mas sim vistas como um instrumento de avaliação da opinião mundial, uma vez que é composta por 193 Estados-membros.
O veto norte-americano de hoje surge num momento em que as condições em Gaza continuaram a deteriorar-se face à crescente operação militar de Israel e a sua decisão de impedir a entrada de ajuda humanitária no enclave.
Esses desenvolvimentos resultaram em milhares de vítimas, destruição de infraestrutura civil e deslocamento em larga escala, assim como um risco crítico de fome de praticamente toda a população do enclave, de acordo com a ONU.
[Notícia atualizada às 22h59]
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