Segundo o ex-secretário de Estado-adjunto para os Assuntos Europeus e Eurasiáticos da istração democrata do presidente Joe Biden, que está hoje em Lisboa para participar na conferência "irável Nova (Des)ordem. O choque trumpiano no mundo e na Europa", encontro coorganizado pelo Conselho Europeu das Relações Externas (ECFR) e a Fundação Calouste Gulbenkian, o atual líder dos Estados Unidos (EUA) tem uma visão da Rússia que remonta aos anos 1980.
Trump "tem algumas ideias fixas [mantidas] ao longo de toda a sua vida e nunca aprendeu a ver quando estão erradas. Uma delas é que fazer acordos com a Rússia faz dele um grande estadista", afirmou, em entrevista à agência Lusa.
De acordo com o diplomata, Donald Trump sempre quis negociar com a Rússia e tem tentado fazê-lo nos últimos 45 anos.
"Nos anos 1980, queria fazer negócios e perguntou se poderia ser encarregado das negociações sobre armas nucleares com os russos", contou Jim O'Brien, acrescentando que Trump queria encontrar-se com o líder russo Mikhail Gorbachev quando este visitasse os EUA.
Agora surgiu a oportunidade de mediar as negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia e Trump não hesitou.
"A Ucrânia é um pormenor. Trata-se de [um combate entre] Washington e Moscovo, ou, na verdade, de empresários de ambos os países a fazerem acordos", adiantou.
"É por isso que os principais negociadores nomeados pelos presidentes são empresários. Um era chefe do fundo de investimento russo e o outro é o amigo do golfe do Presidente Trump", ironizou O'Brien.
Durante as conversas entre os negociadores, o tema -- segundo acredita Jim O'Brien -- "não foi propriamente a paz ou algo mais abrangente".
"Quer dizer, falaram sobre isso, mas a forma como o sucesso seria medido era iniciando acordos comerciais e a venda de minerais essenciais russos ou talvez alguns campos petrolíferos na Rússia", defendeu, sublinhando que isso "só encoraja a Rússia a continuar a fazer o que está a fazer".
Para o diplomata, conseguir que Kiev e Moscovo se reúnam em Istambul para conversar -- como aconteceu no ado dia 16 de maio e está agendado acontecer na próxima segunda-feira -- "não é um problema" difícil de resolver.
"Eles falaram entre si durante todo o conflito. Foi por isso que houve muitas trocas de prisioneiros e que a Ucrânia conseguiu exportar milhões de toneladas de cereais de que o mundo necessitava desesperadamente", disse.
"A questão é: com o que é que podem eles concordar agora?", considerou.
Agora "é altura de os EUA deixarem claro ao Presidente [russo, Vladimir] Putin que ele sentirá um pouco de 'dor' se continuar com a invasão", sublinhou o diplomata, apontando que, neste momento, a situação económica russa está muito pior do que há um ano.
"E, portanto, Trump tem uma influência que Biden não teve", explicou Jim O'Brien, segundo quem, "agora, a Arábia Saudita e os EUA produzem muito mais petróleo do que há um ano e meio", o que retira capacidade a Moscovo.
"Portanto, há agora uma oportunidade de pressionar verdadeiramente o dinheiro russo do petróleo, que é o que paga a guerra", frisou.
Para isso, prosseguiu, tem de se usar as sanções e é preciso impedir todos os prestadores de serviços de disponibilizarem os seus navios e portos à Rússia.
Uma segunda coisa que o Presidente Trump pode fazer é, segundo o ex-secretário de Estado-adjunto, "simplesmente reafirmar que continuará a apoiar a Ucrânia e intensificar o apoio em algumas áreas-chave, como os mísseis de defesa aérea".
Se "retirarmos a Putin a certeza de que pode repor e aumentar o montante que precisa de investir na sua defesa aérea, então, de repente, esta guerra começa a parecer-lhe muito incerta", sugeriu.
Estamos "num ponto crítico" e, ao contrário da istração Biden -- que há um ano "não tinha isto" -, agora Trump pode mesmo fazer pressão, concluiu.
A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022.
Os aliados de Kiev também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.
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