Rússia intensifica ofensiva a par de negociações incertas. Que se ou?

A Rússia intensificou a sua ofensiva na Ucrânia, com a abertura de uma frente de combate na região fronteiriça de Sumy, ao mesmo tempo que lançou uma das suas maiores campanhas aéreas desde o início do conflito.

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© Aleksandrov/Anadolu via Getty Images

Lusa
29/05/2025 10:56 ‧ há 2 dias por Lusa

Mundo

Guerra na Ucrânia

A Ucrânia tem pelo seu lado respondido com pequenas incursões terrestres e lançou um dos ataques aéreos mais fortes no país vizinho, enquanto tenta preservar os seus bastiões fortificados das prolongadas tentativas de cerco dos militares russos.

 

O agravamento da guerra ocorre a par dos esforços internacionais para devolver as partes à mesa das negociações, mas também do endurecimento do discurso diplomático envolvente, após os primeiros os diretos de Moscovo e Kyiv em mais de três anos de conflito, que se saldaram pela troca bem sucedida de mil prisioneiros de cada lado.

Eis alguns pontos essenciais sobre os últimos dados do conflito:

Ataques aéreos russos

A Rússia lançou mais de 900 drones contra a Ucrânia no ado fim de semana, 335 dos quais na noite de domingo, um número recorde desde o início da guerra, segundo a Força Aérea de Kyiv, que indicou também o uso de nove mísseis de cruzeiro Kh-101.

As autoridades ucranianas lamentaram 13 civis mortos no domingo, incluindo três crianças da mesma família, num bombardeamento com um míssil de cruzeiro em Korostychiv, no centro do país.

Peritos da ONU referiram-se a esta vaga de ataques como prováveis crimes de guerra e o presidente norte-americano, Donald Trump, que emergiu como interlocutor das partes, comentou que o homólogo russo, Vladimir Putin, ficou "completamente louco", enquanto Moscovo justificou que os últimos bombardeamentos foram uma retaliação a ataques anteriores de drones ucranianos com baixas civis.

Ataques aéreos ucranianos

O Ministério da Defesa russo indicou na quarta-feira que abateu 296 drones ucranianos durante a noite anterior, incluindo cerca de 40 que se dirigiam para Moscovo, provocando grandes perturbações nas operações nos seus aeroportos durante horas.

O ataque foi um dos maiores na Rússia desde o início da guerra, culminando uma sequência de vários dias de lançamento de dezenas de drones, que alvejaram em particular indústrias de defesa na república do Tartaristão e nas regiões de Ivanovo e Tula.

Frente de combate aberta em Sumy

As forças russas têm progredido na região de Sumy, no nordeste da Ucrânia, com a conquista de pelo menos cinco aldeias, logo após o presidente russo ter ordenado a criação de uma "zona tampão" ao longo da fronteira.

Sumy está colada à região russa de Kursk, onde uma incursão ucraniana surpresa em agosto do ano ado capturou no seu auge acima de mil quilómetros quadrados de território, que as tropas de Moscovo demoraram mais de oito meses a recuperar, e Kyiv reivindica que não o conseguiram ainda na totalidade.

Putin reconheceu numa visita à região na semana ada que a fronteira entre os dois países é vulnerável a ofensivas terrestres e aéreas ucranianas, mas não especificou a demarcação da sua "zona tampão", embora Kyiv acredite que pretenda atingir dez quilómetros de profundidade.

Cerca de 56 mil habitantes já tinham sido retirados antes da chegada dos russos, não havendo qualquer ameaça imediata para os civis, segundo Grygorov.

Ameaça de mais frentes

De acordo com chefias militares de Kyiv, citadas pela estação britânica BBC, os combates entre as tropas ucranianas e russas registaram um aumento de 30% nas últimas semanas.

Enquanto as negociações tardam em produzir progressos e os confrontos crescem no terreno, mais de 50 mil soldados russos estão posicionados junto da região de Sumy, alertou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Na quarta-feira, o líder ucraniano avisou que Moscovo fará "tudo o que for possível" para estender a guerra também a Dnipropetrovsk, no centro do país, a partir da região parcialmente ocupada de Donetsk.

Além de Donetsk e de Lugansk (esta quase totalmente controlada pela Rússia), no leste da Ucrânia, as regiões de Kherson e Zaporijia, ambas no sul, são reivindicadas pela Federação Russa, a somar à península da Crimeia, anexada em 2014, mas várias análises sugerem que as ambições de Moscovo podem não se ficar por aqui, como sugere o forte destacamento posicionado junto de Sumi, enquanto Kyiv se recusa a ceder a soberania sobre estes territórios e que é reconhecida internacionalmente.

Apesar dos objetivos iniciais maximalistas, a Rússia controla apenas cerca de 20% do território ucraniano, incluindo a Crimeia.

Corrida às armas

Segundo o ISW, o aumento do 'stock de mísseis', da produção e das adaptações de drones demonstram "o empenho da Rússia em atingir os seus objetivos por meios militares" numa operação de desgaste prolongado na Ucrânia.

A organização que avalia diariamente a evolução do conflito referiu no seu relatório de terça-feira que os serviços de informação ucranianos continuam a avaliar a determinação do Kremlin em alcançar "a capitulação total da Ucrânia", a par da preparação para um potencial conflito com a NATO, apesar de "enfrentar uma série de restrições críticas" na sua economia e no campo de batalha.

"As próprias limitações da produção industrial de defesa da Rússia estão a levar o país a depender dos seus aliados e parceiros e a encontrar soluções baratas para se adaptar às capacidades de drones e antidrones da Ucrânia", observa o ISW, a par das suas ambições territoriais mais vastas, depois de consolidar a anexação das quatro províncias que já ocupa parcialmente.

Os combates prosseguem ao longo da linha da frente de cerca de mil quilómetros, onde o Exército ucraniano continua em desvantagem face a um adversário em superioridade e que continua a pressionar os setores de Pokrovsk, Toretsk, Kramatorsk, Lyman e Siversk, todos em Donetsk, a somar a Kharkiv, com destaque para a zona de Kupyansk, e também Novopavlivka e Orikhiv, na região sul de Zaporijia.

A Rússia está atualmente a mobilizar até 45 mil militares por mês, quase o dobro dos cerca de 25 mil da Ucrânia, segundo Zelensky, que deu conta, por outro lado, do aumento da produção doméstica de drones e de mísseis, pedindo mais investimento dos seus aliados europeus à indústria de defesa do seu pais.

Em resposta, o novo chancelar alemão anunciou, na presença do líder ucraniano em Berlim, um acordo bilateral de produção de armas de longo alcance e o fim das restrições do uso de armamento alemão, francês e britânico em território russo, embora não tenha esclarecido se vai autorizar a transferência de mísseis de longo alcance Taurus que Kyiv há muito ambiciona.

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