Na terça-feira, multidões de palestinianos romperam uma vedação e invadiram um novo centro de distribuição de ajuda humanitária criado por uma fundação apoiada por Israel e pelos Estados Unidos. Um jornalista da Associated Press (AP) ouviu disparos de tanques e armas israelitas e viu um helicóptero militar a disparar sinalizadores.
O chefe do Escritório de Direitos Humanos da ONU para os Territórios Palestinianos, Ajith Sunghay, afirmou que a maior parte dos feridos foi atingida pelo fogo do Exército israelita.
O centro de distribuição nos arredores da cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, foi inaugurado na segunda-feira pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), registada nos Estados Unidos, que foi designada por Israel para assumir as operações de ajuda humanitária.
A ONU e outras organizações humanitárias rejeitaram o novo sistema, alegando que não será capaz de satisfazer as necessidades dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza e permite que Israel utilize os alimentos como arma para controlar a população. Alertaram ainda para o risco de atrito entre as tropas israelitas e as pessoas que procuram mantimentos.
Os palestinianos estão desesperados por comida depois de quase três meses do encerramento das fronteiras pelos israelitas.
Israel afirma ter ajudado a estabelecer o novo mecanismo de ajuda para impedir o Hamas de desviar os mantimentos, mas não apresentou provas de desvio sistemático e as agências da ONU afirmam ter mecanismos para impedir o desvio de comida e outros suprimentos.
A GHF afirmaou ter estabelecido quatro centros, dois dos quais já começaram a funcionar. Estão protegidos por empresas de segurança privada e possuem vedações de arame que conduzem os palestinianos para o que se assemelha a bases militares rodeadas por grandes barreiras de areia.
Frisou que os seus seguranças não dispararam contra a multidão, recuando antes de retomar as operações.
As forças israelitas estão estacionadas nas proximidades, naquilo que Israel chama o corredor Morag, uma zona militar que separa a cidade de Rafah, no sul --- que está agora praticamente desabitada --- do resto do território.
A ONU e outros grupos humanitários recusaram-se a participar no sistema da GHF, alegando que viola os princípios humanitários. Afirmam que pode ser utilizado por Israel para deslocar a população à força, exigindo que se mudem para perto dos poucos centros de distribuição ou enfrentem a fome, uma violação do direito internacional.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse na terça-feira que "houve uma perda momentânea de controlo" no ponto de distribuição, acrescentando que "felizmente, conseguimos controlá-lo".
Repetiu que Israel planeia mover toda a população de Gaza para uma "zona isolada" no extremo sul do território, enquanto as tropas combatem o Hamas noutros locais.
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