Quase 25 anos depois das primeiras ações de valorização do produto, o "crescimento turístico no Fundão tem sido fabuloso", destacou à agência Lusa Olga Nogueira, técnica de turismo do município.
"A experiência mais marcante é, realmente, quando os turistas podem comer a cereja diretamente da árvore. É o que as pessoas mais valorizam. Junho é o mês mais forte turisticamente, nomeadamente com as excursões", disse Olga Nogueira, que por estes dias assiste os visitantes no posto de turismo.
É o "ouro do concelho": assim a cereja é caracterizada pela vendedora Ermelinda Costa, que por esta altura assenta arraiais e despacha caixas e mais caixas do fruto numa das entradas do Fundão.
"Mexe com toda a economia, desde quem produz, quem apanha, restaurantes, vendedores, supermercados. É o ouro do Fundão".
O presidente da Câmara também não tem dúvidas: em 2002 começou a trabalhar-se esta identidade, num plano de marketing territorial. Quase 25 anos depois, o resultado é evidente.
O Europeu de futebol em 2024, em Portugal, foi também determinante para esta evolução, com a campanha "A cereja do Fundão, o fruto da nossa seleção". Desde aí, num processo que conheceu quatro fases, a cereja ou de um valor agregado de 11/12 milhões de euros para 20 milhões por ano.
A Câmara investe cerca de 100 mil euros por ano nesta história de sucesso, numa média, disse Paulo Fernandes, que aludiu a um estudo que concluiu que houve anos em que, com um investimento de 50 mil euros, o potencial comunicacional chegava aos dois milhões de euros.
Uma tese de doutoramento defendida em 2013 por Maria João Forte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa concluiu que esta operação - iniciada pelo então presidente Manuel Frexes, que tinha Paulo Fernandes como vereador -- mudou a paisagem, a toponímia, a cultura e os hábitos. A socióloga destacou também, no seu estudo, o desaparecimento das variedades locais.
"Mas, hoje, o valor que se paga ao produtor é mais do dobro do que se pagava antes de começarmos com a nossa marca. A cereja trouxe a notoriedade e contaminámos positivamente outras atividades que nada têm a ver com a cereja. Hoje, o nosso produto agregado ligado à agricultura estará na casa dos 170 milhões por ano para um município com 27 mil pessoas".
Os imigrantes são fundamentais para mexer com a economia e Paulo Fernandes destacou, numa conversa com a Lusa, um aspeto inabdicável: "Se alguém for encontrado com práticas não dignas relativamente ao trabalho agrícola, fica proibido de usar a marca 'Cereja do Fundão'".
O fim das portagens também tem contribuído, no tempo mais recente, para o crescimento turístico: as dormidas aram de 80 para 160 mil por ano e o tempo de estada duplicou de 1,5 em média para três dormidas graças aos dois mil hectares de cereja que povoam o território.
João Nuno Rodrigues, presidente da Junta de Alcongosta -- a capital da cereja e onde se realiza no segundo fim de semana de junho a Festa da Cereja, lembrou que é, ali, freguesia na qual também se localiza a Casa do Saber -- Casa da Cereja, que se localiza o grosso dos produtores.
A aldeia vive praticamente toda em torno da cereja: "Temos aqui famílias, talvez 50% da população, que vive da fruticultura e da cereja. A freguesia é a mais cerejeira de Portugal, como diz o presidente da Câmara. Foi aqui que se começaram a desenvolver os primeiros pomares ordenados. Aqui, estará também em breve, o Centro de Ciência Viva -- Quinta das Ideias e da Cereja. Será um espaço mais ligado para a ciência e para o desenvolvimento de novas atividades".
Numa localidade com 300 e muitos eleitores, cerca de 30 mil pessoas visitam a Casa da Cereja por ano. Já a Festa, este ano em 06, 07 e 08 de junho, tem habitualmente 50 a 60 mil visitantes.
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