Vítima de abusos na Igreja acusa comissão de se ter recusado a ouvi-la

Uma denunciante de abusos sexuais na Igreja Católica acusou hoje a comissão de instrução criada para avaliar pedidos de compensação financeira de se ter recusado a ouvi-la nos Açores, mas a comissão rejeita as acusações.

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Lusa
28/05/2025 20:30 ‧ ontem por Lusa

País

Igreja Católica

Residente nos Estados Unidos da América desde os 18 anos, a mulher, hoje com 62 anos, alega ter sido vítima de abusos sexuais, quando tinha 10 anos, por parte de um padre na ilha do Pico, nos Açores.

 

Deslocou-se na terça-feira à ilha Terceira para ser ouvida por membros da comissão de instrução, mas a reunião acabou por não acontecer.

Numa carta enviada à presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas para a Proteção de Menores, a que a Lusa teve o, a mulher disse sentir-se "defraudada" por não ter tido oportunidade de ser ouvida.

"Eu vim da Carolina do Norte, via Boston, 15 horas de carro, para a Terceira para ser ouvida? Ou vim para a Terceira para ser humilhada? Desrespeitada? Desvalidada? Depois de tudo o que aconteceu, eu vim por minha conta e risco, de boa-fé, ter convosco e sou tratada desta maneira? Como é que uma comissão de apoio às vítimas pode agir desta forma?", questionou.

Segundo a denunciante, a reunião, com uma representante do Grupo VITA e um representante da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis, foi agendada inicialmente para se realizar num hotel, mas na véspera a localização foi alterada para um edifício istrativo da Diocese de Angra.

"Isto deixou-me perplexa. Como era possível a comissão agendar esta sala? Eu, depois de tudo o que me aconteceu, teria de me sentir à vontade nesta estrutura? Achei que era insensível e sobretudo uma falta de respeito pela minha pessoa", apontou.

A mulher contou que um primo, seu representante em Portugal, dirigiu-se ao local da reunião para informar que ela não conseguiria reunir-se naquele edifício.

Disse ter recebido um email da responsável do grupo VITA, que "sem qualquer empatia, sensibilidade, ou até mesmo qualquer sentido de humanidade, respondeu que o local tinha sido alterado, porque o local inicial não reunia condições de privacidade ou acústicas", acrescentando que o hotel também era da Igreja.

Segundo a denunciante, os representantes da comissão deslocaram-se para o hotel, mas não lhe foi "dito de maneira clara" que o local tinha sido novamente alterado.

Quando se apercebeu, disse ter enviado uma mensagem a mostrar disponibilidade para se reunir durante a tarde de terça-feira e hoje, mas foi-lhe respondido, por email, que não tinha cumprido os procedimentos e que "este processo de avaliação estaria encerrado".

Num comunicado, enviado em resposta a questões colocadas pela agência Lusa, o grupo VITA e a Comissão Diocesana de Angra rejeitaram as acusações.

"A comissão de instrução mostrou-se inteiramente disponível e refuta veementemente as acusações que lhe são feitas", afirmaram.

Os membros da comissão alegaram que "tudo foi feito para que este processo decorresse da forma prevista", salientando que um dos elementos se deslocou de propósito à ilha Terceira para ouvir a denunciante.

"O local de audição foi alterado e, posteriormente, novamente alterado, como forma de tentar corresponder às necessidades da pessoa em questão", acrescentaram.

Em comunicado, revelam que, na véspera da primeira reunião, perceberam que "sala disponível para o efeito não dispunha das melhores condições de privacidade, do ponto de vista acústico", alterando a localização para "uma sala num prédio urbano sem qualquer contexto religioso".

Segundo a comissão, a denunciante confirmou a sua presença na véspera, mas à hora marcada, 10h00, fez-se representar por um familiar que exigiu que ela fosse ouvida no local inicialmente definido.

Os membros da comissão dizem que aram a denunciante a explicar o motivo da mudança de sala e perguntaram como desejava proceder, mas não obtiveram resposta.

Por volta das 10h28, relatam, deslocaram-se para o local inicialmente designado e informaram a denunciante, que respondeu, dois minutos depois, "que iria pensar e que responderia até ao meio-dia".

Os elementos sublinham que informaram a mulher e o familiar de que as entrevistas requeriam tempo e teriam de ser realizadas durante duas manhãs, não podendo aguardar até ao meio-dia, mas sem obterem resposta informaram-na de que "não seria possível prosseguir com este processo, atendendo ao adiantado da hora".

Segundo o comunicado, a denunciante sugeriu ser ouvida na presença no primo e realizar entrevistas complementares online, mas o regulamento não o permite.

"Não está previsto o acompanhamento das pessoas denunciantes por parte de terceiras pessoas, exceto em situações de vulnerabilidade (em razão da idade, doença ou deficiência). Da mesma forma, não está prevista a realização de entrevistas à distância", explicaram.

A Lusa questionou a comissão sobre se seriam agendadas novas reuniões, mas não obteve resposta.

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