"Conta um bocadinho a problemática do lobo, as capacidades do lobo, a capacidade de resiliência da espécie. Através da história desta loba, desde pequenina até à idade adulta, dá-nos pretexto para poder contar um bocadinho do que é esta espécie", afirmou hoje Sérgio Agostinho, diretor artístico e ator da companhia.
A Peripécia fez um ensaio para a imprensa para apresentar o espetáculo que tem estreia marcada para o dia 06 de junho, em Benagouro, aldeia de Vila Real, mas com antestreia no dia 05, Dia Mundial do Ambiente, para alunos do concelho.
A Sala Peripécia está instalada no Centro Cultural e Recreativo de Benagouro, uma aldeia no sopé da serra do Alvão. "Em pleno território de lobos", realçou Sérgio Agostinho, referindo que por aqui viveu uma matilha denominada Sombra, não se sabendo se ainda existe.
Por isso, na sua opinião, tinha todo o sentido a companhia abordar esta temática, que é muito complicada, fraturante e com muitos ângulos de visão: "Nós metemo-nos na boca do lobo, porque a temática é mesmo muito complexa. Não é só uma temática ambiental, é uma temática social e política e nós tentamos dar um bocadinho dessas perspetivas através de um espetáculo que também é ele feito de muita variedade estética".
O responsável da companhia acrescentou que a peça tem música ao vivo e pinceladas de humor e de drama, o que, segundo frisou, "lhe dá um ar sedutor para uma aproximação do espetador" a estes assuntos.
"Nós achamos que o lobo é só bom. [...] Somos nós que nos metemos no território do lobo, esta é uma guerra antiga como se diz no próprio espetáculo, mas o lobo nunca foi mau, o lobo é lobo, é uma espécie chave no ecossistema", salientou.
Agostinho sublinhou que, ao longo da história, a espécie foi associada ao misticismo, à religião, ao maligno ou ao diabólico, o que chega à atualidade através de, por exemplo, contos.
"A consequência disto é que aquilo que nós pensamos saber do lobo quase tudo é falso", frisou.
Esta é uma criação original da Peripécia Teatro, inspirada em textos de Félix Rodriguez de la Fuente, com testemunhos reais e uma canção recolhida por Federico Garcia Lorca.
Mas é também uma produção que nasceu por proposta, em 2018, do serviço do ambiente do município de Vila Real.
"É preciso voltarmos a lembrar que conhecer é proteger", referiu Mafalda Vaz de Carvalho, dos serviços do ambiente, destacando a importância desta peça para dar a conhecer o animal, desmistificar o lobo mau e sensibilizar para a preservação de uma espécie que é protegida em Portugal.
A responsável disse ainda que a criação artística também pode ajudar a "percorrer os objetivos de preservação, neste caso, do património natural de Vila Real".
O projeto inclui ainda a realização de percursos interpretativos, guiados pelo especialista André Brito, que, antes das sessões de espetáculo, irá até ao fojo do lobo (antiga armadilha), na Samardã.
"Para as pessoas perceberem o que era aquela estrutura, para que servia, quais eram os caminhos do lobo, porque é que o lobo deixou de ar aqui, porque é que os incêndios são tão prejudiciais para o lobo", referiu, lembrando o último censo que revela que o número de matilhas nesta zona diminuiu.
Os dados do Censo Nacional 2019/2021, divulgados em 2024, revelam que a área de presença do lobo em Portugal foi reduzida em 20% e o número de alcateias detetadas decresceu 8% para as 58 em duas décadas.
No Alvão, registou-se uma diminuição do número estimado de alcateias superior a 50% (das 13 para as seis).
A maioria das alcateias encontra-se a norte do rio Douro, distribuídas por três núcleos populacionais (Peneda/Gerês, Alvão/Padrela e Bragança).
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