Na manifestação organizada pela Fiequimetal (Federação Intersindical ligada à CGTP) frente à sede da associação patronal ACAP - Associação Automóvel de Portugal, em Lisboa, os trabalhadores gritam "sim à negociação, não à imposição" do contrato coletivo do setor e fazem-se acompanhar de cartazes a dizer "dignificar e valorizar os trabalhadores" e "mais salários, menos horário". Mostram-se ainda contra a desregulação dos horários laborais.
Nos discursos durante a manifestação, trabalhadores e dirigentes sindicais denunciaram que, apesar da inovação tecnológica, o setor tem horários cada vez mais desregulados e ritmo de trabalho cada vez mais intenso, quando devia haver mais salários e mais descanso e respeito pela vida familiar e social.
Relataram ainda casos de empresas que frequentemente dificultam licenças parentais e de amamentação e disseram que este é um setor especialmente suscetível a doenças profissionais e acidentes de trabalho.
Em declarações à Lusa, o coordenador da Fiquimetal, Rogério Silva, acusou os patrões de fazerem propostas "absolutamente inaceitáveis" na negociação do contrato coletivo de trabalho, como propor apenas 15 domingos por ano como dia de descanso, tornar o sábado dia de trabalho normal, fixar o subsídio de alimentação em 2,5 euros e obrigar o trabalhador a ser "pau para toda a obra".
"Estamos a falar de multinacionais como Volkswagen, Stellantis, Mitsubishi, Renault. São milhões e milhões de lucros, a engordar os acionistas e a procurar generalizar a aplicação do salário mínimo nacional", disse.
O responsável considerou que este setor tem condições para melhorar a vida laboral e aumentar os salários em 15%, no mínimo de 150 euros. Atualmente, disse, um operário do setor automóvel recebe em média pouco mais de 950 euros líquidos e eleva para 1.100 euros no regime de três turnos rotativos.
Um trabalhador do grupo Salvador Caetano disse que foi integrado no despedimento coletivo que o grupo fez em março e considerou-o ilegal. "Estão a contratar. Substituem trabalhadores com mais salários e direitos por trabalhadores mais jovens com salários mais baixos e menos direitos", acusou.
O dirigente do sindicato SITE Centro-Norte Telmo Reis disse à Lusa que a Stellantis Mangualde atingiu o pico de 80 mil carros produzidos em 2024 e que quer novamente aumentar a produção em 2025 sem se preocupar com os tempos de descanso e aumentar salários.
"É sábados e domingos a trabalhar, até no feriado do 10 de junho", afirmou, explicando que a obrigação de os trabalhadores laborarem nesses dias se deve ao regime do banco de horas.
Na manifestação, foram saudados os trabalhadores da ex-Renault Cacia (atual Horse Aveiro) por terem chumbado, em referendo, o regime do banco de horas grupal.
Presente na manifestação, o secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, considerou que este setor "trata muito mal os trabalhadores, seja na questão dos salários, seja na questão da retirada de direitos, seja na questão do pagamento do trabalho extraordinário".
Para o dirigente sindical, no momento atual de maioria parlamentar de direita, os trabalhadores têm de estar "unidos, organizados" pelos direitos laborais e pela defesa dos bens e serviços públicos como a segurança social, que considerou que está a ser atacada.
"Está aí mais um ataque em curso à segurança social. Os trabalhadores vão lutar em defesa da segurança social, vão lutar em defesa da Constituição da República, vão lutar em defesa do direito de greve. Tivemos 48 anos de ditadura fascista, onde foram negados todos esses direitos, e agora quer-se voltar a discutir o direito de greve", disse.
Segundo a organização, participam nesta manifestação mais de 200 trabalhadores.
[Notícia atualizada às 15h10]
Leia Também: Trabalhadores do setor automóvel exigem mais salário e redução horária