O deputado do PSD Hugo Carneiro negou, esta sexta-feira à noite, ter colocado "em causa a liberdade de imprensa e dos jornalistas" após ter sugerido às forças policiais que procurem revelar as fontes de informação que divulgaram clientes da Spinumviva, a empresa familiar do primeiro-ministro, Luís Montenegro.
"Esqueceram-se desta parte da minha declaração: 'talvez nem seja necessário chegar a tanto e que a pessoa que divulgou esta informação sinta pressão e tenha a coragem - se não tiver a vergonha - de vir a público dizer que 'fui eu, errei ao divulgar a informação'. Neste caso estamos a falar de um crime porque, no grupo de trabalho, quem tem o extravasou para fora informação que estava sob sigilo. Queremos saber quem acedeu", afirmou Hugo Carneiro, na RTP3, num frente a frente com Fabian Figueiredo do Bloco de Esquerda.
O social-democrata lembrou que, na quinta-feira, em "vários canais de televisão", afirmou que respeita a "liberdade de imprensa" e nunca a colocou "em causa", acusando o BE de "instrumentalização política".
"Nunca foi o PSD nem eu a colocar em causa a liberdade de imprensa e dos jornalistas. Vi Mortágua a sugerir que eu insinuei fazer escutas a jornalistas ou deputados. Nunca o disse. Lamento a instrumentalização política para fugir ao essencial, de que foi cometido um crime no grupo de trabalho com o extravasar de informação que está sujeita à reserva por força da lei”, argumentou o deputado do PSD.
BE acusa PSD de "centrar-se em mais um 'fait diver'"
Em resposta, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo, garantiu não ter consultado o "registo de Luís Montenegro" e acusou o PSD de querer centrar-se em mais um 'fait diver'.
"Era importante que este debate não se centrasse na campanha de diversão que o PSD quer promover e que tem vários contornos graves. A intimidação a jornalistas e deputados da oposição. Estávamos habituados a esse tipo de práticas noutros países, como a Rússia ou a Turquia, em que se tenta condicionar o trabalho de escrutínio que os jornalistas fazem. As declarações são evidentes, por isso é que mereceram a reação do sindicato dos jornalistas", apontou Fabian Figueiredo.
Para o deputado do BE, a informação agora divulgada "já devia ter sido disponibilizada à Entidade para a Transparência há um ano".
"O primeiro-ministro teve de ser instado para cumprir com as obrigações declarativas. Estava em incumprimento em relação à lei. O primeiro-ministro, que gosta de dizer que é o mais transparente dos políticos, foi arrastado a prestar um esclarecimento atrás do outro, nunca o fez por livre iniciativa", acrescentou o líder parlamentar do BE.
Na quarta-feira, o jornal Expresso noticiou que Luís Montenegro submeteu junto da Entidade para a Transparência uma nova declaração, na qual acrescentou sete novas empresas para as quais trabalhou na Spinumviva, empresa fundada pelo próprio e que ou recentemente para os seus filhos.
Na sequência da divulgação de novos dados, o deputado do PSD Hugo Carneiro pediu ao Grupo de Trabalho do Registo de Interesses no parlamento que peça à Entidade para a Transparência os registos de quem acedeu aos dados sobre o primeiro-ministro, de forma a descobrir quem partilhou a informação com a imprensa.
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