Em publicações nas redes sociais e nas páginas oficiais, é recordado o legado do "mestre da fotografia portuguesa, cuja obra soube captar como poucas o pulsar do povo, da cidade e da História", como escreve o Museu do Fado, que publica fotografias de Eduardo Gageiro de personalidades como Amália e Celeste Rodrigues, Carlos Paredes, Lucília e Carlos do Carmo, Alfredo Marceneiro e Argentina Santos, e recorda a exposição "Tudo Isto é Fado", do fotojornalista, em 2014.
O Museu do Aljube Resistência e Liberdade recupera imagens de Gageiro do 25 de Abril e da realidade do país, ao longo de décadas, e o Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, lembra igualmente "a figura maior da cultura portuguesa do último século", que também "ajudou a construir" o museu.
"Foi a Eduardo Gageiro que o Museu do Neo-Realismo recorreu para, através da fotografia documental, retratar a realidade e as circunstâncias da época em que o Neorrealismo assumiu um papel determinante na cultura portuguesa. Com ousadia, inteligência e coragem, usou a sua lente para intervir politicamente durante o Estado Novo, num tempo em que a Censura rejeitava qualquer imagem demonstrativa da realidade portuguesa".
O Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) e a Companhia Nacional de Bailado (CNB) afirmam que "Eduardo Gageiro captou alguns dos momentos mais marcantes da história recente de Portugal", reconhecendo nele "o olhar singular, o trabalho memorável de guardião da História contemporânea e a certeza de um património valiosíssimo a que regressaremos muitas vezes."
O conselho de istração do Organismo de Produção Artística (Opart), que gere as duas estruturas, numa mensagem enviada à agência Lusa, recordou ainda "a forte ligação" de Eduardo Gageiro ao TNSC e à CNB, que "deixa um importante legado de memória e artisticidade", materializado "ao longo de várias décadas, em diversos momentos, com uma afetividade" testemunhada "de viva voz".
O Opart recorda "a icónica fotografia de Rudolf Nureyev, durante os ensaios para os espetáculos em que o bailarino dançou ao lado de Margot Fonteyn, em 1968", e os vários espetáculos e ensaios da CNB. Muitas dessas imagens estão agora expostas no recém-inaugurado Circuito Interpretativo da História e Património da CNB, no Teatro Camões.
Outro momento evocado por este organismo a por "uma das fotografias mais emblemáticas" de Gageiro, de soldados com cravos, no 25 de Abril, usada para o cartaz da ópera "Os dias levantados", de António Pinho Vargas, reposta em 2024, nas comemorações dos 50 anos da Revolução.
A revista Seara Nova também lembra o fotógrafo "comprometido com os valores da justiça e da democracia", "solidário com os que sofriam a violência fascista", que "fez da sua fotografia uma arma de denúncia dos problemas sociais", de "forma profundamente humana".
Os fotógrafos Adriano Miranda, António Fazendeiro, Arlindo Homem, Luiz Carvalho, Valter Vinagre estão entre os profissionais que reagiram igualmente à morte de Eduardo Gageiro. Entre imagens e testemunhos sobre o fotojornalista, as palavras de Adriano Miranda sintetizam o sentimento entre pares: "Eduardo Gageiro, o gigante entre os grandes. Os gigantes são imortais."
O documentarista Pedro Neves, por seu lado, relata como Eduardo Gageiro o ou, depois de ter visto o seu filme "Acima das Nossas Possibilidades": "ei o tempo a agradecer. Não só o telefonema, mas aquela vida, aquelas imagens que sempre andaram na minha cabeça, aquele enorme exemplo. Nunca me tinha visto, não me conhecia e ligou-me porque gostou do que eu tinha feito como se fosse uma pessoa qualquer. Talvez tenha sido (também) por isto, que nunca tenha sido uma pessoa qualquer."
Eduardo Gageiro nasceu em Sacavém, em 1935. O Município de Loures recorda o "Rapaz de Sacavém, Fotógrafo do Mundo", e a União das Freguesias de Sacavém e Prior Velho reconhece "o seu valioso contributo para a preservação da identidade histórica da freguesia e do nosso país."
A obra de Eduardo Gageiro testemunha realidades políticas, sociais e culturais, desde os anos 1950 à atualidade.
Em 1975, com uma fotografia de António de Spínola, na clarividência da História e da derrota iminente, Eduardo Gageiro conquistou o prémio World Press Photo. Três anos antes, foi um dos poucos fotojornalistas, a nível internacional, a captar os raptores da equipa de Israel, nos Jogos Olímpicos de Munique. A fotografia de uma criança que fez no Iraque, nos anos 1990, está em exposição permanente na Casa da História Europeia, em Bruxelas.
O velório de Eduardo Gageiro realiza-se hoje, a partir das 18:00, na Academia Recreativa Musical de Sacavém. O funeral tem início na sexta-feira, às 11:00, no cemitério da sua terra natal.
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