Num comunicado hoje divulgado, o SJ começa por recordar que Eduardo Gageiro foi "um dos primeiros fotógrafos a chegar ao Terreiro do Paço durante a Revolução dos Cravos, em 1974", captando "momentos eternizados na memória coletiva".
"Instantâneos que associamos à objetiva de um homem que ajudou a construir a imagem do dia da nossa Liberdade, mas que fez muito mais pela fotografia e pelo jornalismo ao longo de quase 70 anos a fotografar Portugal", refere o sindicato.
Aquele que era o sócio n.º 46 do Sindicato dos Jornalistas estava reformado desde 2000, mas manteve a sua filiação com o estatuto de 'freelancer', que tinha desde julho de 1985.
Gageiro publicou a sua primeira fotografia aos 12 anos no Diário de Notícias, "com honras de primeira página", iniciando a atividade de repórter no Diário Ilustrado em 1957.
Ao longo da carreira trabalhou para as revistas O Século Ilustrado, Eva, Almanaque, Match Magazine, agência Associated Press (Portugal), foi editor da revista Sábado e manteve uma longa atividade como 'freelancer'.
O SJ lembra que, durante a ditadura, Gageiro "fotografou as condições precárias em que vivia grande parte da população portuguesa, a miséria e a pobreza endémicas no antigo regime", imagens "que lhe valeram a atenção do regime e várias detenções nas prisões da PIDE -- cuja sede fotografaria no 25 de Abril a ser tomada pela revolta popular".
Para o sindicato, nos 51 anos de Democracia em Portugal, "a lente de Gageiro foi sempre um olhar objetivo sobre a realidade da vida política, social e cultural do país", "um trabalho de décadas reconhecido com centenas de prémios, entre os quais se destaca o 'Nobel' da fotografia, o World Press Photo, em 1975".
Nascido em Sacavém, em 1935, Eduardo Gageiro, que completou 90 anos em fevereiro, deixa um vasto arquivo de uma obra de décadas que ilustra realidades políticas, sociais e culturais do país, modos de vida e personalidades diversas, num registo histórico desde a década de 1950 até à atualidade.
Eduardo Gageiro foi um dos primeiros fotojornalistas a chegar aos cenários do 25 de Abril, fixando as imagens do encontro dos militares no Terreiro do Paço, do assalto à sede da PIDE, da polícia política, e o momento em que o capitão Salgueiro Maia percebeu que a queda da ditadura era inevitável e a revolução triunfara.
Durante os anos de ditadura, captou imagens das condições precárias em que vivia grande parte da população portuguesa, tendo tido vários episódios em que foi preso pela PIDE, por causa das imagens 'inconvenientes' ao regime.
Empregado de escritório na Fábrica de Loiça de Sacavém, entre 1947 e 1957, "conviveu diariamente com pintores, escultores e operários fabris, que o influenciaram na sua decisão de fazer fotojornalismo", lê-se na biografia disponível no seu 'site'.
Eduardo Gageiro foi condecorado como comendador da Ordem do Infante D. Henrique e cavaleiro da Ordem de Leopoldo II, da Bélgica.
Foi nomeado "membro de honra" do Fotokluba Riga (ex-URSS), do Fotoclube Natron e da Novi Sad (ex-Jugoslávia), da Osterreichisdhe Fur Photographie, da Áustria, e recebeu o prémio de excelência da Fédération Internationale de l'art Photographique (FIAP), em Berna, na Suíça.
No II Congresso Internacional de Repórteres Fotográficos, realizado em S. Paulo, Brasil, em 1966, foi nomeado vice-presidente da organização.
Mestre Fotógrafo Honorário da Associação de Fotógrafos Profissionais desde 2009 é o único português com uma fotografia em exposição permanente na Casa da História Europeia, em Bruxelas, desde 2014, indica a sua biografia.
No início deste ano, a Câmara Municipal de Torres Vedras adquiriu o acervo do fotógrafo, que já se mantinha à sua guarda e conservação.
Até 13 de setembro está patente na Galeria Municipal de Torres Vedras a exposição 'Pela Lente da Liberdade', que parte desse acervo.
Leia Também: Gageiro: Marcelo homenageia fotojornalista "do Portugal antigo e moderno"