No arranque do ciclo de conferências "Desafio atuais da Imigração Lusófona", promovido pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) e que hoje abordou a gestão dos fluxos migratórios e os desafios da inclusão, o secretário-geral da instituição alertou para os riscos de "respostas precipitadas".
Para Luís Campos Ferreira, a imigração é "um tema escaldante, que precisa de ser encarado com responsabilidade e humanidade".
"Respostas precipitadas, sem uma avaliação concreta do percurso percorrido, correm o risco de, não só não resolver o problema, ao nível do trabalho, habitação ou segurança social, como o ampliar, para os imigrantes e não imigrantes", disse.
O especialista em direito das migrações e presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Gonçalo Saraiva Matias, considera "muito superficial" o debate que tem existido sobre a imigração.
Portugal transformou-se nos últimos anos num "país atrativo para a imigração", o que o advogado acha positivo, mas também um grande desafio.
E defendeu "uma política integrativa que seja capaz de dotar e organizar respostas de um modo adequado para garantir a dignidade de quem trabalha e a segurança do país", disse.
Vasco Malta, chefe da missão da Organização Internacional das Migrações (OIM) em Portugal, alertou para "o suicídio demográfico" que ocorreria se os imigrantes se fossem embora, a par de circunstâncias como as baixas taxas de natalidade, o envelhecimento populacional e a emigração dos mais novos.
"Se não fossem os imigrantes, corríamos o risco de, por volta de 2050, baixarmos para perto dos sete milhões" de habitantes, disse, citando dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Mas esta não seria a única consequência, já que sem os imigrantes e os seus contributos fiscais, o Estado teria de aumentar os impostos para assegurar receita fiscal.
Isso mesmo concluiu um estudo da Nova SBE (School of Business & Economics), segundo o qual "a restrição da imigração levará a um aumento de impostos, deterioração das contas públicas e subsequente impacto na dívida pública, ou uma combinação dos três".
Ana Paula Costa, presidente da Casa do Brasil, lembrou que "a imigração ilegal é má para toda a gente: Para os imigrantes e para a economia, pois quem não está documentado facilmente aceita valores mais baixos", com uma menor contribuição para o Estado.
A investigadora não arrisca um desfecho para a atual situação política, que tem trazido o tema da imigração na ribalta.
Mas acredita que a ligação que tantas vezes é feita entre os imigrantes e a crise que se vive na saúde, na habitação e no Estado social, promoveu "uma rutura do consenso sobre a imigração".
"A polinização e a politização em torno deste fenómeno [imigração] é novo, mas tem de se olhar para ele", disse.
Lucinda Fonseca, especialista em geografia humana e estudos das migrações, duvida que seja o controlo apertado às entradas que travem a imigração.
E recordou que os portugueses continuaram a emigrar "a salto" para França, nos anos 60 e 70 do século ado.
Enquanto houver necessidades do mercado de trabalho, as pessoas continuarão a emigrar, observou, recordando que, no tempo da troika, os imigrantes deixaram Portugal.
Para Lucinda Fonseca, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, as mentiras associadas aos imigrantes "podem levar à impulsão democrática e a normalização da xenofobia".
A próxima conferência realiza-se a 11 de junho e irá abordar os desafios do emprego.
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