"Hoje, um grupo de indivíduos armados invadiu os armazéns de um hospital de campanha em Deir al-Balah, saqueando grandes quantidades de equipamento médico, mantimentos, medicamentos e suplementos nutricionais destinados a crianças desnutridas", disse, Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, referindo que os produtos tinham entrado no dia anterior de camião através da agem de Kerem Shalom.
"À medida que as condições no local continuam a deteriorar-se e a ordem pública e a segurança entram em colapso, continuam a ser relatados saques", observou.
Mas o porta-voz de António Guterres distinguiu o incidente de hoje da invasão na quarta-feira a um armazém de alimentos do Programa Alimentar Mundial (PAM) por palestinianos desesperados.
"Isto pareceu muito mais organizado e diferente das pilhagens que vimos nos últimos dias, particularmente no armazém do PAM (...). Foi uma operação organizada, por homens armados", dscreveu.
Desde o início da semana ada, Israel voltou a permitir a agem limitada de camiões da ONU pela agem de Kerem Shalom, ao fim de mais de dois meses de bloqueio.
As Nações Unidas alertam que se trata de uma "gota no oceano" das necessidades e criticou procedimentos complicados, incluindo veículos que precisam de ser descarregados e recarregados, e pedidos de o por vezes negados pelas autoridades israelitas.
As restrições juntam-se às condições de segurança num território que tem vindo a sofrer ataques constantes israelitas há mais dum ano e meio.
Na quinta-feira, a ONU e os seus parceiros "só conseguiram recolher cinco camiões do lado palestiniano de Kerem Shalom" e "outros 60 camiões tiveram de regressar ao ponto de agem devido às hostilidades na zona", segundo Stéphane Dujarric, enquanto Israel acusa as Nações Unidas de não recolher a ajuda disponível.
"Já não era seguro usar a estrada" que o Exército israelita tinha autorizado, explicou o porta-voz, sublinhando que "muitos gangues armados" operam em torno de Kerem Shalom.
As Nações Unidas alertaram hoje que a Faixa de Gaza "é o local com mais fome no mundo", ameaçando a totalidade da população, segundo Jens Laerke, porta-voz do escritório de coordenação de assuntos humanitários (OCHA), ao questionar o plano israelita de assistência ao enclave.
A ONU e outras organizações humanitárias rejeitam o novo sistema de distribuição de ajuda, afirmando que não será capaz de satisfazer as necessidades dos 2,3 milhões de habitantes e permite que Israel utilize os alimentos como instrumento de controlo da população.
Em causa, está a concessão da distribuição da ajuda à Fundação Humanitária de Gaza (GHF), criada nos Estados Unidos sem a aprovação das Nações Unidas, ao mesmo tempo que a logística de abastecimento da ONU e de outras organizações é severamente condicionada por Israel.
Ao longo da semana, foram relatadas várias situações de desespero e descontrolo em centros de distribuição de ajuda da GHF, com a ocorrência de episódios de multidões dispersadas a tiro.
A organização, composta por antigos militares norte-americanos e empresas de segurança privadas, negou hoje relatos de mortes e caos nos pontos de distribuição, contrariando versões das autoridades locais, de outras entidades humanitárias e testemunhos de habitantes.
O Exército israelita iniciou há uma semana e meia uma nova operação terrestre e aérea no território, após ter quebrado em meados de março o cessar-fogo em vigor com o Hamas.
O início desta campanha militar coincidiu com o levantamento do bloqueio que se mantinha há mais de dois meses e meio à entrada de ajuda humanitária à população do enclave, que já enfrentava o risco de fome, segundo as agências da ONU.
O conflito em curso foi desencadeado pelos ataques liderados pelo grupo islamita palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde fez cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e mais de duas centenas de reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 54 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
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