"Após os comentários insultuosos e as alegações infundadas feitas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros francês contra o Irão, o encarregado de negócios em Teerão foi convocado para o ministério", informou a agência noticiosa oficial iraniana IRNA.
Panahi, de 64 anos, recebeu no sábado a Palma de Ouro pelo seu filme 'Um Simples Acidente', um conto político mordaz em que os ex-prisioneiros são tentados a vingar-se do seu torturador. Desafiando as leis da República Islâmica, várias das suas atrizes aparecem sem véus, noticia a agência espanhola Efe.
Reagindo ao prémio de melhor realizador em Cannes, o chefe da diplomacia sa, Jean-Noël Barrot, criticou a República Islâmica numa curta mensagem publicada no X.
"Num gesto de resistência contra a opressão do regime iraniano, Jafar Panahi ganha uma Palma de Ouro que reacende a esperança para todos os combatentes pela liberdade em todo o lado", escreveu, provocando a ira das autoridades no Irão.
"Após os comentários insultuosos e as alegações infundadas feitas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros francês contra o Irão, o encarregado de negócios em Teerão foi convocado para o ministério", informou no domingo a agência noticiosa oficial IRNA.
O Irão condena "o uso indevido" do Festival de Cannes pelo Governo francês "para promover a sua agenda política contra a República Islâmica", afirmou a IRNA.
Nenhuma autoridade de Teerão comentou a segunda vez que um iraniano venceu o Festival de Cannes, depois de Abbas Kiarostami ter ganhado, em 1997 pela longa-metragem "O Gosto da Cereja".
Crítico do Governo de Teerão, Panahi, 64 anos, foi preso duas vezes no Irão: 86 dias, em 2010 e quase sete meses entre 2022 e 2023.
O cineasta conseguiu deslocar-se a Cannes pela primeira vez, em 15 anos, para receber o prémio, entregue pela atriz Juliette Binoche, que presidiu a um júri composto pela atriz norte-americana Halle Berry, a realizadora indiana Payal Kapadia e a atriz italiana Alba Rohrwacher.
O realizador e produtor congolês Dieudo Hamadi, o realizador sul-coreano Hong Sangsoo, o realizador mexicano Carlos Reygadas, o ator norte-americano Jeremy Strong e a escritora franco-marroquina Leïla Slimani também integraram o júri.
'Un Simple Accident' ('Um Simples Acidente') é um 'thriller' moral que examina o dilema de antigos detidos tentados a vingar-se do seu torturador, num ataque direto à arbitrariedade das forças de segurança.
O filme é também uma reflexão sobre a justiça e a vingança perante a arbitrariedade.
Na cerimónia de atribuição dos prémios, o realizador iraniano apelou à "liberdade" do seu país: "Penso que este é o momento de pedir a todas as pessoas, a todos os iranianos, com todas as opiniões diferentes, em qualquer parte do mundo, que ponham de lado (...) todos os problemas, todas as diferenças. O mais importante neste momento é o nosso país e a liberdade do nosso país", declarou em farsi, de acordo com a tradução fornecida pelo festival.
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