"Penso que é importante do ponto de vista do posicionamento de Portugal nas ex-colónias e também do ponto de vista de alguma receita, porque os dividendos que a empresa tem pago, mesmo por esses 7,5%, têm sido significativos para a REN", afirmou Tomás Matola, numa entrevista à Lusa no Estoril, à margem da II Conferência de Energia LP.
Cinquenta anos depois da independência do país, o presidente do conselho de istração da maior hidroelétrica de Moçambique, destacou a forma como foi feito o processo de reversão, com agem do controlo a HCB e da sua gestão de portugueses para moçambicanos em 2007, altura em que a portuguesa REN - Redes Energéticas Nacionais, reduziu a sua participação no capital para 7,5%.
"Houve agem de conhecimento por parte da REN. Daí até agora, tendo em conta que a REN tem uma posição, embora não executiva, no conselho de istração, temos (continuado a) troca de experiência" e também "a cooperação estratégica, afirmou.
"A gestão e operação é feita pelos moçambicanos, porque houve de facto uma boa agem de conhecimento", sublinhou, conhecimento esse que foi também importante para o posterior desenvolvimento de outros projetos de energia em Moçambique.
"Houve desenvolvimento de capacidades em Moçambique, quer da parte da HCB quer do lado da Eletricidade de Moçambique [EDM]", acrescentou, apontando como exemplo o aumento e modernização das linhas do sistema de transporte de energia.
Há beira de celebrar 50 anos de vida, Cahora Bassa já não é a única hidroelétrica no país, que já tem "pequenas centrais hídricas", mas continua a ser "a guardiã do conhecimento do ponto de vista de geração de energia hídrica", enfatizou o gestor.
O "grande desafio" neste momento é dar resposta ao "crescimento da procura doméstica", em virtude do desenvolvimento da economia e industrialização de Moçambique, e à "procura regional", porque a região tem "um défice de energia agravado pela África do Sul", mas ao mesmo tempo, é "uma oportunidade para Cabora Bassa crescer e expandir-se", destacou Tomás Matola.
Por isso, Cabora Bassa que hoje ainda "tem a mesma capacidade de produção deixada pelos portugueses", tem projetos de expansão, sublinhou.
Um desses projetos é a Central Norte, em fase de estudos, mas que Tomás Matola acredita que "este ano" seja "aprovado em Conselho de Ministros", podendo iniciar-se a sua construção dentro de dois anos, e prolongando-se até 2031 ou 2032.
Para este investimento, a HCB "vai abrir capital só para a Central Norte, numa perspetiva de 'projet finance', em 40%", e os restantes 60% ficam na mão da HCB, que vai usar os seus próprios recursos, mas também terá de recorrer ao endividamento para garantir o financiamento necessário.
Além disso, vai ter um projeto de energia fotovoltaica para a geração inicial de 400 megawatts de energia solar, que está em fase de "pré-estudo", mas que prevê expandir a capacidade, sendo aberto a operadores privados. Nessa sociedade, a HCB ite ficar com entre 5% a 10% do capital.
A 12 de maio deste ano a Hidroelétrica de Cahora Bassa anunciou em edital que iria distribuir 7.400 milhões de meticais (102,6 milhões de euros) em dividendos aos acionistas, entre o quais a REN, num valor de 0,28 meticais (0,4 cêntimos de euro) por ação.
A HCB é uma sociedade anónima de direito privado, detida em 85% pela estatal Companhia Elétrica do Zambeze e pela REN em 7,5%, possuindo a empresa 3,5% de ações próprias, enquanto o restante capital está nas mãos de cidadãos, empresas e instituições moçambicanas.
A albufeira de Cahora Bassa é a quarta maior de África, com uma extensão máxima de 270 quilómetros em comprimento e 30 quilómetros entre margens, ocupando 2.700 quilómetros quadrados e uma profundidade média de 26 metros, contando com quase 800 trabalhadores, sendo uma das maiores produtores de eletricidade na região austral africana, abastecendo os países vizinhos.
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