Nascido em Luanda e radicado no Porto desde os oito anos, o 'boxeur', hoje com 32 anos, diz estar "mais bem preparado do que nunca" para um duelo em que lhe cabe defender o 'cinturão' conquistado em 12 de dezembro de 2024, na categoria de peso super meio-médio (66,7 a 69,9 kg), graças à vitória sobre o indiano Sukhdeep Singh Bhatti, em Toronto, no Canadá.
"Vai ser a minha primeira defesa do título IBO, ainda para mais em África, no continente do país de onde vim. É a primeira vez que vou lutar lá. Estou ansioso. Será com um grande adversário, um atleta da 'casa'. Estou mais do que pronto. Tive a melhor preparação até agora. Estou muito focado e pronto para dar espetáculo", afirma, em entrevista à Lusa.
Ligado ao Vitória SC desde setembro de 2023, onde aprimora os golpes sob a orientação do treinador Alberto Costa, numa sala de treino no Estádio D. Afonso Henriques, o lutador entrou pela primeira vez no 'top 100' do ranking da plataforma informal BoxRec após derrotar o arménio Araik Marutjan em Berlim, em 25 de novembro de 2023.
Conhecido no circuito como 'monstro', Uisma Lima conquistou depois o título intercontinental da Federação Internacional de Boxe (IBF, na sigla inglesa), outra das organizações que tutela a modalidade, ao vencer o alemão Haro Matevosyan em 06 de abril de 2024, também em Berlim, antes de realizar o "melhor combate" da carreira em dezembro último.
Profissional desde 2019, com 13 vitórias e uma derrota no currículo, o angolano ocupa o 23.º lugar da BoxRec e espera aproveitar a sua capacidade física "acima da média" para se impor a um oponente com 15 triunfos em 15 combates, 16.º dessa hierarquia.
"Tento sempre fazer pressão desde o início do combate até ao final. Treino intensamente todos os dias para estar com a capacidade física lá em cima. Vamos 'jogar' fora e temos de ter uma capacidade física superior à do nosso adversário para ganharmos todos os 'rounds' e não deixarmos dúvidas", diz, ao projetar o evento previsto para as 20:00 locais (19:00 de Lisboa), na mais populosa cidade sul-africana.
Prestes a competir no estrangeiro pela 11.ª vez como profissional, o pugilista preparou-se para o combate com campos de treino no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e em Inglaterra, num esforço superior a quatro mil euros, apoiado por patrocinadores, algo que vê como testemunho da sua dedicação à modalidade.
"Esta é a minha vida. Respiro boxe. Durmo a pensar no boxe. Nunca paro de treinar. (...) A preparação correu bem. Os treinos correm sempre dentro do plano. Já sabíamos deste combate há quatro meses. Foi tudo detalhado e delineado dentro do prazo", frisa.
Apesar de ter praticado karaté, kickboxing, jiu jitsu e artes marciais mistas na academia Sistema Marcial de Defesa, no Porto, Uisma apercebeu-se que preferia o boxe quando tinha 17 anos, ingressou na equipa da Don Kinguell, outra academia da 'invicta', aos 20, e estreou-se como profissional em 23 de fevereiro de 2019, na Catalunha, derrotando o maliano Youssouf Koné por 'knockout'.
O atleta venceu mais nove combates, em Portugal, em Espanha e no Reino Unido, antes da primeira e única derrota no palmarés, em 16 de junho de 2023, diante do irlandês Aaron McKenna, num combate realizado em Londres que precedeu o ingresso no Vitória, para trabalhar com Alberto Costa.
"Em Portugal, há poucos treinadores que sabem a vertente profissional. A vertente amadora e a vertente profissional são diferentes. O Alberto era um dos treinadores com os quais sempre quis trabalhar desde cedo", assume.
À espera de obter nacionalidade portuguesa, já pedida, o 'boxeur' ainda espera "chegar ao auge" e confessa a ambição de defrontar o norte-americano Terence Crawford, "atleta com muita visibilidade" que ocupa o primeiro lugar no 'ranking' da BoxRec, com 41 vitórias em outros tantos eventos.
Habituado ao boxe profissional, modalidade na qual os combates se estendem até 12 rondas, Uisma Lima considera "muito difícil" o regresso ao boxe amador, com duelos até três rondas, para tentar um eventual apuramento para os Jogos Olímpicos de 2028, em Los Angeles.
"Portugal é um país em que é muito difícil chegar aos Jogos Olímpicos. É preciso um financiamento grande para um atleta chegar lá. São precisos espaços de treino. Quando era amador, tive esse sonho, mas depois perdi-o. (...) Desde que subi a profissional, o meu sonho é tentar ganhar o máximo de dinheiro e chegar ao topo mundial", reconhece.